Eu continuava a observá-las ônibus. Aquela cena, figurada pela humildade da mãe e da filha fazia-me refletir.
As duas tiravam retratos de seus ídolos. Sim, diga "retrato" - expressão antiga - para aludir àquela máquina que era muito antiga.
Esta máquina dava o direito ao seu proprietário de preocupar com a contagem regressiva de poses, além da preocupação em não queimá-lo, assim, apagaria a prova de que elas estiverem na presença dos ídolos.
A vestimenta das parentes e a dita máquina faziam um contraste com a modernidade. Isso tudo me chamava a atenção e me comovia.
Com tantas outras coisas inúteis para se fazer naquela noite de 12 de outubro, a única explicação de elas estarem ali era, de fato, a admiração por aqueles homens. Mas, admirar o que neles? Aquela admiração está ligada à ignorância. Pois tenho certeza que se elas soubessem quem são seu ídolos de verdade, teriam ficado em casa vendo TV - e se iludindo com outros ídolos -, fazendo crochê ou escrevendo.
O fato é que eu sei quem são os ídolos dels. E desconfio, portanto, do mesmo modo não saber quem são os meus. Afinal, "meus heróis morrem de overdose".
A moral daquela cena, daquele flash é admirar os fatos e as obras, não as pessoas. A beleza das coisas entá em nós, por isso não nos frustaremos com elas, já as pessoas, os ídolos são dignos de vaidades, ímpetos e humor, são corromptíveis. São drogados.
Aquele flash nos meus olhos fez-me enxergar esse texto.
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